Wednesday, October 31, 2012

carta dois - Joana.

Esta carta tinha de ser mesmo escrita para ti.

 
Não tens noção do quanto me custa falar em ti. Não sei porquê, mas custa-me imenso relembrar a nossa amizade.
Lembro-me perfeitamente dos nossos dias no infantário. Brincavamos no escorrega e andavamos sempre a tentar apanharmo-nos uma à outra. Dos almoços, as poucas recordações que tenho é a de não gostares de comer tomate e do Jorge enfiar ervilhas pelo nariz dentro. Após os almoços, dormiamos distantes uma da outra, mas eu lembro-me de não querer dormir de vez em quando para poder brincar com a minha Joaninha. Eu levava as Barbies para a escola e o João Miguel divertia-se a despi-las e a tocar-lhe nas mamas (nota-se que a taradiçe não é de agora...). Lembro-me de sair de lá do Infantário, do meu último dia lá, e de me dizerem que ias continuar lá mais um ano. Senti-me triste nesse dia...
Estivemos um ano sem falarmos, mas reencontrámo-nos no 1º ano. Curiosamente, ficamos na mesma turma: eu, tu, o João Miguel, o João Pedro, o Vieira... E assim continuámos. No 6º ano, andaste com o Pedro (aquele rapaz dos gémeos que entraram logo no inicio do nosso 5º ano, na nossa turma; o mais feiinho, mas o que sempre teve mais raparigas - sempre teve quem queria). Ele andou atrás de mim no 5º ano, e no 6º também, lembras-te? Mas eu sempre disse que não gostava dele, que ele era só o meu melhor amigo. Lá foste tu cair na asneira de andar com ele, mas isso nunca me fez impressão, eu gostava de ver-vos juntos.
Ficámos juntas até ao fim do 6º ano...
...Até que tudo mudou. E mudou radicalmente para mim, nunca me conformei com o facto de te ter perdido. A ti e a todos os outros.
No 7º ano as turmas mudaram, misturaram tudo. Perdi-te. Não me venham dizer que nos estavamos sempre a brigar uma com a outra, ou que faziamos birras e tentavamos com que os nossos amigos se afastassem de nos quando nos chateavamos - eramos crianças, é normal, e nós acabavamos por resolver sempre tudo. Fiquei sem ti, sem os gémeos, sem a Francisca... Vocês ficaram todos na mesma turma e a pessoa em quem eu me apoiei foi o Luís, que (graças a Deus) ficou na minha turma. Provavelmente, há mesmo males que vêem por bem, perdi-vos a vocês mas ganhei aquele que me considera como uma irmã e em tantos anos nunca me abandonou.
Ainda namorei com o Pedro no 1º periodo (e até hoje não sei o que me passou pela cabeça), mas nao durou mais de 2 meses... Entre nós as duas continuava a correr tudo bem.
Os dias passavam, os horários eram diferentes e muitos dos intervalos já não passavamos juntas. Quando queria estar contigo, esta sempre lá a tua outra melhor amiga, a Ju, e eu sinceramente não me sentia bem - porque eras TU a minha melhor amiga e não ela; o que eu te contava a ti, ninguém tinha de saber. Por isso, se, de dia para dia, nos iamos afastando mais, essa foi a razão que fez com que tudo realmente desmunerasse. Não te sintas culpada, nem culpes a Ju - ela é uma rapariga muito querida e simpática. A culpa foi nossa, apenas nossa...
No final do 7º já quase não nos falávamos, nem mesmo no msn nem no skype...
Há coisas que acontecem porque têm de acontecer: a nossa separação é só mais uma dessas coisas.
Ambas temos 16 anos neste momento, já saimos e já temos a nossa vida mais ou menos encaminhada. Estudamos no mesmo Liceu, estamos na mesma área e temos amigos em comuns. Mas, por mais incrivel que pareça, continuamos sem estar juntas, nem que seja uma vez num século. Nunca quis ficar sem ti, por isso é que me magoa tocar neste assunto.

 
Hoje passei por ti. Senti saudades. Saudades de tudo o que passámos e de ti tambem. Passei por ti, sorrimos uma para a outra, e sabes o que me apeteceu fazer ? Tocar-te. Eu queria não mais nada, apenas queria tocar-te a abraçar-te. E sabes o que magoa mais ? Saber que já não há intimidade para tal entre nós.

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